Dom Pedro II foi 1º a traduzir obra do árabe, diz pesquisa
Dayanne Sousa
Já em idade avançada, o Imperador brasileiro Dom Pedro II foi o primeiro a traduzir a obra mais conhecida da literatura árabe direto para o português: as Mil e Uma Noites. E o fez com um rigor raro para a época, revela uma dissertação de mestrado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). A pesquisadora Rosane de Souza foi a primeira a ter acesso a parte de uma tradução assinada por Dom Pedro II, que não conseguiu concluir a obra antes de morrer.
Aos 62 anos, ele começou o processo. O último registro de texto traduzido é de novembro de 1891, um mês antes de sua morte.
Rosane destaca a preocupação com a fidelidade do texto em árabe. "Ele era um amante da cultura oriental e mantém tudo, até as características de linguagem do texto original", comenta. Uma surpresa, uma vez que até os dias atuais a versão mais conhecida do texto das Mil e Uma Noites no mundo ocidental é a que deriva de um texto francês, bastante modificado, trazido pelo orientalista Antonie Galland.
Dom Pedro II manteve até mesmo trechos eróticos que outros escondiam. "Quando viu-me riu-se no rosto de mim e apertou-me ao peito d'ella e a boca de mim sobre a boca d'ella", diz um dos trechos traduzidos. A tradução francesa do mesmo trecho fala apenas em "saudações".
O Imperador das Letras
A pesquisadora conta que vai continuar os estudos, tentando entender mais os fatos da vida pessoal do Imperador. Mas ela faz questão de destacar o lado intelectual de Dom Pedro II que era pouco conhecido no Brasil em sua época. "As pessoas o viam apenas como Imperador e o interesse por literatura não era valorizado", conta. Em cartas que trocava com escritores e autoridades estrangeiras, porém, era elogiado.
As traduções eram feitas por ele pessoalmente, embora a pesquisadora levante a hipótese de que por vezes seu professor estivesse ao lado. Pedro II não tinha qualquer ambição de publicar livros e escrevia por prazer, para treinar a fluência nos vários idiomas que falava:
"10h ½ Antes de jantar estudei árabe traduzindo As mil e uma Noites. Ainda traduzi a Odisséia e li provas da arte guarani de Restivo", conta em seu diário, também usado na pesquisa.
Rosane explica que Dom Pedro II sempre foi estimulado a estudar letras. Desde os 12 anos, sabia francês, inglês e latim. Do homem que ensinou árabe e levou ao Imperador o gosto pelo orientalismo, não se sabe muito. Nos diários, o aluno o chama de F. Seibold. Alguns autores, conta Rosane, dizem que seu nome seria Christian Friedrich Seybold. "Ele acompanhou o Imperador em suas viagens ao exterior e até sua morte, no exílio (após a Proclamação da República)", acrescenta. Ela ainda não sabe qual a influência do professor na qualidade das traduções, mas arrisca: "Mesmo estando presente, é possível verificar que ele não interferia muito na tradução, pela forma e por alguns erros de interpretação que estamos verificando".
Mil e Uma Noites
As Mil e Uma Noites são na verdade uma reunião de histórias encontradas em manuscritos de diferentes datas e origens. As histórias, divididas em número de noites, já foram reunidas de várias formas diferentes, o que dificulta a tradução e a fidelidade aos originais.
O ocidente conheceu a história pela tradução francesa de Galland, que faz muitos acréscimos e modificações. Pelo conteúdo, Rosane conseguiu identificar que Dom Pedro II não adotou a tradução de Galland, mas uma edição em árabe de 1825 chamada de edição de Breslau. Ela contou com a ajuda do professor de literatura árabe Mamede Jarouche, da Universidade de São Paulo, que assina uma tradução das Mil e Uma Noites para o português feita direto do árabe e publicada no Brasil.
Rosane identifica a tradução do Imperador brasileiro como bastante fiel. Para se aproximar da forma como o árabe usa os pronomes muito próximo dos nomes, ele usou formas como "esposa de mim" e "filhos de mim", o que para a pesquisadora mostra consciência da língua.
Dom Pedro II também traduziu vários outros textos e escrevia poesias de sua autoria. Três livros com traduções suas chegaram a ser publicados, um após sua morte, em 1907.
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Bela publicação!
D. Pedro II foi imperador do Brasil por quase 50 anos. Seu legado permanece apagado para a maioria do povo brasileiro
Sobre o maior brasileiro de todos os tempos, disse Monteiro Lobato:
"D. Pedro II agia pela presença.
O fato de existir no ápice da sociedade um símbolo vivo e ativo da honestidade, do equilíbrio, da moderação, da honra e do dever, bastava para inocular no país em formação o fermento das melhores virtudes cívicas.
O juiz era honesto, se não por injunções da própria consciência, pela presença da honestidade no trono. O político visava o bem comum, se não pelo determinismo de virtudes pessoais, pela influência catalítica da virtude imperial. As minorias respiravam, a oposição possibilitava-se: o chefe permanente das oposições estava no trono. A justiça era um fato: havia no trono um juiz supremo e incorruptível. O peculatário, o defraudador, o político negocista, o juiz venal, o soldado covarde, o funcionário relapso - o mau cidadão, enfim - muitas vezes passava a vida inteira sem incidir num só deslize. A natureza o propelia ao crime, ao abuso, à extorsão, à violência, à iniqüidade, mas sofreava as rédeas aos maus instintos a simples presença da eqüidade e da justiça no trono.
Foi preciso que viesse a República, e que se alijasse do trono a força catalítica, para patentear-se bem claro o curioso fenômeno. O mesmo juiz, o mesmo político, o mesmo soldado, o mesmo funcionário, até 15 de novembro honesto, bem intencionado, bravo e cumpridor dos deveres, percebendo ordem de soltura na ausência do imperial freio, desenfrearam a alcatéia dos maus instintos mantidos de quarentena.
Daí o contraste, dia a dia mais frisante, entre a vida nacional sob Pedro II e a vida nacional sob quaisquer das boas intenções quinquenais que se revezam no governo republicano." continuar lendo
Nesses 50 anos, em que o imperador ficou comprando múmias, traduzindo textos em árabe, comprando e admirando o telefone inventado à época, indo para as feiras internacionais levando produtos do Brasil, tais como abacaxi, índios e tacapes, enquanto países tais como Estados Unidos, Inglaterra e França, dentre outros, avançavam, o que representa hoje o nosso atraso de 200 anos -Renato. continuar lendo
Tu és burrinha. continuar lendo