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6 de Maio de 2024

Laurentino Gomes: “E se o Brasil continuasse sendo uma Monarquia?”

Entrevista de Laurentino Gomes autor da trilogia 1808, 1822 e 1889.

há 8 anos

Se o Brasil ainda fosse uma monarquia, o atual imperador seria dom Luiz de Orleans e Bragança, bisneto da princesa Isabel e do conde d’Eu e tataraneto de dom Pedro II, o último imperador a governar o Brasil. Ele tem atualmente 75 anos e vive em São Paulo desde 1967. Nasceu na França e se formou em Química na Alemanha. O que mais teria acontecido se a República não tivesse sido proclamada em 1889? O Blog do Curioso fez essa pergunta ao jornalista Laurentino Gomes, que acaba de lançar o livro 1889. A obra completa a trilogia lançada em 2006. Os dois primeiros livros – 1808 e 1822- já atingiram a marca de 1,8 milhão de exemplares vendidos. Ao aliar o conteúdo histórico a uma linguagem mais acessível, o jornalista paranaense conquistou prêmios importantes, como o Jabuti de Literatura de 2008 e o de Melhor Ensaio da Academia Brasileira de Letras. Leia abaixo a entrevista de Laurentino Gomes:

Laurentino Gomes E se o Brasil continuasse sendo uma Monarquia

A capital ainda seria no Rio de Janeiro?

Provavelmente, não. O plano de mudar a capital do Brasil para uma região próxima ao Planalto Central é muito antigo e bem anterior ao governo de Juscelino Kubitscheck, o criador de Brasília. Esse projeto já era discutido no governo do Marquês de Pombal, em meados do Século 18, quando o Brasil ainda era colônia de Portugal. Também foi defendido por José Bonifácio de Andrada e Silva, o “Patriarca da Independência”. Bonifácio achava que a nova capital deveria se localizar na região do Triângulo Mineiro, onde hoje estão as cidades de Uberaba e Uberlândia. Segundo ele, mudar a capital seria uma forma de estimular a integração e a comunicação entre as diversas regiões brasileiras, até então isoladas e até rivais entre si. O palácio do imperador provavelmente seria em um prédio desenhado por Oscar Niemeyer em meio ao cerrado do Planalto Central.

O Brasil teria a mesma configuração territorial? Teria participado de mais guerras?

O Império foi responsável direto pela manutenção da integridade territorial brasileira. Ao contrário das vizinhas colônias espanholas, o Brasil não se dividiu em três ou quatro países autônomos, como se temia na época da Independência. O motivo foi a vinda da corte de D. João para o Rio de Janeiro, que passou a funcionar como um foco de integração da elite regional, até então dispersa pelo território e rival entre si, e também como um elemento de força que impôs a integridade territorial toda vez que ela foi ameaçada por rebeliões separatistas regionais, caso da Confederação do Equador de 1824 e da Revolução Farroupilha de 1835. Um Brasil monárquico provavelmente seria fiel a essa tradição que, por sinal, a república manteve muito bem.

A dinastia no poder seria a dos Bragança ou poderia ocorrer alguma reviravolta?

Difícil dizer uma vez que a família imperial brasileira sempre foi marcada por divergências e rivalidades internas. Até hoje são bem conhecidos por desentendimentos entre os chamados ramos de Vassouras e de Petrópolis, cada qual reivindicando para si o suposto direito de sucessão ao trono. Tem de tudo nessa família: de príncipe conservador ligado à TFP (Tradição, Família e Propriedade) a príncipe ecologista e fotografo. Na falta de uma dinastia concorrente, no entanto, é bem possível que os Bragança conseguissem superar suas dificuldades e se manter no trono, hipótese por sinal tão improvável quanto a perpetuação da monarquia no Brasil.

A que países o Brasil teria se aliado ao longo do processo histórico?

Acredito que um Brasil monárquico teria mais afinidades com outras monarquias, caso da Inglaterra e da Espanha. Ainda assim, seria inevitável uma aproximação cada vez maior com os Estados Unidos que, embora sejam uma república, tem um poder geopolítico enorme na América e não poderia ser ignorado pelo império brasileiro. A diferença de regimes, no entanto, poderia funcionar com um elemento a mais de divergências com as repúblicas vizinhas da América do Sul, o que, aliás, ocorreu com muito frequência durante o Século 19. É possível que nós tivéssemos que brigar mais com os argentinos, uruguaios e paraguaios, para citar apenas os mais próximos.

Qual seria o tamanho da influência do Brasil na América do Sul e no mundo?

Talvez fosse maior do que foi até agora com a república. O império tinha uma visão estratégica bastante ambiciosa a respeito da posição do Brasil no mundo. Até as vésperas da Proclamação da República, a Marinha brasileira era uma das mais bem equipadas, treinadas e respeitadas do hemisfério ocidental. Infelizmente, parte dessa visão se perdeu ao longo da história republicana. O Brasil se resignou a um papel menor no mundo

Teríamos uma monarquia absolutista ou seria constitucional?

Seguramente, uma monarquia constitucional. D. João VI foi o último monarca absoluto de Brasil e Portugal. O absolutismo já estava no mais completo declínio no começo do Século 19 e já não tinha adeptos nem mesmo dentro da real família de Bragança.

O imperador seria alvo de muitos protestos populares?

Sem dúvida alguma seria alvo de grandes protestos e piadas. Já no final do Século 19 o imperador Pedro II era alvo de críticas e sátiras grotescas nos jornais e revistas que, entre outros apelidos, o chamavam de “Pedro Banana”. Imagine hoje o que fariam com ele os humoristas do Porta dos Fundos, do Pânico e do CQC. Dá pena só de imaginar!

Postado originalmente em Guia do Curioso.

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8 Comentários

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Teríamos estabilidade POLÍTICA e EECONÓMICA coisas que faltaram nessas seis repúblicas com nove moedas.
E estabilidade política e económica trazem investimentos, trabalho e aumento de renda para o brasileiro comum.

Teríamos um sufrágio feminino muito antes do que tivemos e inindenizaçãpara negros como desejava e planejava princesa Isabel em carta descoberta recentemente.

Quanta diferença da República hein!!

Mas poderíamos ir além.
Verdadeira preocupação com Educação e Cultura fariam a diferenças mais gritante.

Paro por aqui senão choro kkkkk continuar lendo

amigo, você poderia me passar as fontes? continuar lendo

Quem decide que o Rei é rei para sempre? E se eu quiser montar uma tribo e depôr o rei, aí intervém a lei burguesa? Monarquias modernas não são legítimas como se pretendem. continuar lendo

Bom dia, leia por gentileza as outras duas publicações do perfil e elas responderam suas perguntas http://monarquiaconstitucional.jusbrasil.com.br/noticias/358108467/mitos-sobreamonarquia-parlamentar

http://monarquiaconstitucional.jusbrasil.com.br/artigos/358590785/o-brasilereal continuar lendo

Falou-se em aspectos secundários, mas o que seria realmente relevante para a nação é a estabilidade e prosperidade, além também do melhor prestigio internacional o orgulho do povo, basta lembrar que entre 1862 e 1865, o Brasil foi vítima da arrogância imperialista britânica capitaneada pelo incompetente primeiro ministro britânico Wiliam Christie que fez exigências absurdas e que foi respondido pelo Imperador Dom Pedro 2 "o Brasil está pronto pra a guerra", embora a guerra não chegasse a de fato acontecer, o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Inglaterra, e só reatou depois que a rainha da Inglaterra mandou uma carta se desculpando. Já o Brasil república sofreu o ultrage de uma invasão francesa no Amapá no começo do século, da tomada das refinarias da Petrobrás pela fraquíssima Bolívia no governo Lula, além de ter que ouvir do pseudo presidente Francês casado com sua milf favorita da época da escola que ameaçou tomar a Amazônia, e apesar de respostas ácidas do presidente Bolsonaro, nada de efetivo foi feito, nem mesmo o rompimento das relações diplomáticas. Creio eu que a reputação internacional do Brasil e dos brasileiros seria muito melhor com a monarquia. continuar lendo

O elemento-chave aí seria o destino do Poder Moderador. Quem seria seu depositário? O Senado? Um Conselho de Notáveis, presidido pelo Imperador? Ninguém sabe, ao certo.

Uma vantagem, contudo, seria certa: provavelmente ninguém xingaria S. Majestade em abertura de cerimônia, seja de Pan, Copa ou Olimpíada. continuar lendo